Que se comece sempre pelo primeiro livro que te pegar de jeito
Na semana passada
recebi um pedido que volta e meia me fazem. Um pai, percebendo germinar o
interesse de seu filho adolescente pela leitura, me pergunta se eu poderia lhe
indicar algum livro. E complementa que gostaria de introduzir o filho ao mundo
da filosofia, mas que os livros de filosofia lhe parecem difíceis demais. Chegou
a presentear o filho com uma introdução à filosofia, mas a leitura não
"pegou".Afinal, "por onde começar?", é o que no limite
pergunta o pai. Trata-se de uma bela questão, uma questão, pode-se dizer,
filosófica: a sua mera formulação já situa o formulador às portas da filosofia.
Essa não apenas começa historicamente com uma pergunta espantada — o célebre
thauma de Aristóteles — mas recomeça a cada vez com uma questão. Uma questão,
por sua vez, não é uma mera pergunta. É uma pergunta em estado avançado para
trás. É uma pergunta que começa por desnaturalizar as respostas automáticas. E
é por essa espécie de “limpeza da situação conceitual”,parafraseando Valéry,
que recomeça sempre a filosofia. Geralmente, um filósofo, quando perguntado,
não responde à pergunta, e sim pergunta a pergunta.